O fascinante mistério do santo sudário

O fascinante mistério do santo sudário

The Shroud of Turin

The Shroud of Turin

O lençol mortuário que envolveu o corpo de Jesus é o verdadeiro símbolo da Paixão e da Ressurreição de Cristo

Uma peça de puro linho, com exatos 4,36 m de comprimento, 1,10 m de largura e delicados 0,34 mm de espessura, tornou-se, ao longo dos séculos, a maior relíquia do catolicismo. E também o maior enigma da história da cristandade. O tecido surrado, estreito e comprido, com manchas envelhecidas de sangue, queimado em algumas áreas, traz estampada em suas fibras a tênue figura de um homem barbudo e despido de, aproximadamente, 1,81 m de altura.

Em toda a extensão da imagem impressa no pano, é possível ver as marcas de ferimentos produzidos por chicotes, lanças e espinhos. A flagelação sofrida por quem deixou impressa sua imagem foi tão brutal que, por si só, teria matado uma pessoa mais frágil. Não matou, mas abreviou sua permanência na cruz, acreditam cientistas de várias áreas que há mais de um século estudam o lençol mortuário.

Para os fiéis, não há dúvida: o pano realmente é o Sudário que envolveu o corpo de Cristo e foi enterrado com ele, depois deixado na tumba quando de sua ascensão aos céus.

O primeiro relato a respeito do Sudário aparece no Evangelho de São Marcos. De acordo com o texto, um homem chamado José de Arimateia desceu Jesus da cruz e o enrolou no lençol de linho, depois o colocou em um sepulcro aberto na rocha. Depois da ressurreição, o lençol desapareceu dos textos bíblicos, até que, no século 14, foi finalmente encontrado, segundo a versão de um cruzado que chegou da Terra Santa.

Em 1898, porém, a imagem voltou a levantar polêmica. O advogado e fotógrafo italiano Secondo Pia, com sua imensa máquina fotográfica, quis registrar o casamento da filha do duque de Saboia, em Turim e aproveitar a ocasião para tirar uma fotografia da relíquia da família: um imenso lençol que, de acordo com a tradição, teria sido o lençol mortuário de Cristo.

Ao revelar o filme, o fotógrafo se assustou com a imagem que surgia espantosamente nítida no negativo, enquanto que, no pano, mostrava-se embaçada. O episódio não esclareceu o mistério, mas, por um bom tempo, reacendeu a discussão entre os crentes e os incrédulos. Apesar de toda a especulação, o Santo Sudário continuou guardado na Catedral de Turim, longe dos olhos dos fiéis.

Entre 1978 e 1981, um grupo internacional de cientistas do mais alto nível se reuniu em torno do Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim. Trabalharam quase 150 mil horas no tecido tirando radiografias, fazendo testes com raios X com fluorescência, espectroscopia, infravermelho e retirada de amostras com fita. Os pesquisadores concluíram que a imagem não é uma representação, mas uma figura misteriosamente produzida pelo corpo que o Sudário envolveu.

A reprodução apresenta uma grande quantidade de feridas, com uma precisão de detalhes simplesmente espantosa. Até os halos formados em torno das manchas de sangue, devido à separação entre as hemácias e o plasma, podem ser vistos. Segundo os cientistas, o corpo exibe sinais de morte e rigidez, mas nenhum indício de decomposição. Essa informação foi interpretada por muitos como uma das provas da ressurreição.

Em 1988, a Santa Sé, por fim, permitiu que cientistas da Universidade de Oxford, Inglaterra, do Instituto Politécnico de Zurique, Suíça, e da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, submetessem a peça aos testes de Carbono 14 – técnica utilizada para medir a idade de materiais antigos. A conclusão foi que o tecido de linho teria sido fabricado entre 1260 e 1390. O manto, então, seria uma fraude produzida na Idade Média para estimular a fé dos católicos.

Será?

Apesar dos testes do Carbono 14 serem considerados precisos, alguns pesquisadores contestaram os resultados por acreditarem que, ao longo dos séculos, vários fatores poderiam ter interferido no resultado adulterando a datação. Uma das interferências seriam as altas temperaturas, as quais o Santo Sudário foi submetido ao longo da sua existência. Em 1532, as labaredas de um incêndio na Catedral de Chambery, onde se encontrava o Santo Sudário na época, deixaram marcas no pano. Antes, em 1503, a mortalha teria sido fervida em óleo quente para comprovar a autenticidade. Segundo as autoridades eclesiásticas da época, se a imagem permanecesse no pano, mesmo depois do banho de óleo fervente, isso significava que a figura era realmente santa.

Para os físicos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, no entanto, as duras provas de fogo a que foi submetido seriam suficientes para alterar a precisão do teste do Carbono 14.

O microbiologista Leôncio Garza Valdes, médico e professor da Universidade do Texas, também contestou a datação. Ao analisar amostras do Sudário cortadas na mesma ocasião do teste de carbono, Valdes descobriu uma espécie de revestimento bioplástico produzido pela bactéria Lichenothelia Varnish sobre os fios de linho. Segundo o microbiologista , as bactérias no Sudário podem ter deturpado a precisão do Carbono 14.

PESQUISAS MULTIDISCIPLINARES
Estudiosos em História, Antropologia, Arqueologia, Botânica, entre outros, também têm contribuído enormemente para desvendar o mistério que envolve a mortalha

IDENTIDADE
*Ao estudar as imagens tridimensionais do rosto do homem do Sudário feitas por pesquisadores da Nasa, o historiador Dale Stewart, do Museu Smithsoniano de História Natural, dos Estados Unidos, diz que a barba, o cabelo e os traços faciais são característicos do grupo racial semita, o que condiz com a informação bíblica (e histórica) que Jesus Cristo era judeu.

Reprodução

 

 

 

 

Accetta

* No livro The (O Santo Sudário: a Evidência Ilustrada), os pesquisadores Ian Wilson e Barrie Schwortz afirmam que a análise do sangue encontrado no Sudário possibilitou conhecer o tipo sanguíneo do homem que foi coberto com ele. O sangue é do grupo AB, raro entre os europeus, mas comum entre os judeus do Oriente Médio.
* O historiador inglês Ian Wilson observou que no Santo Sudário havia uma mancha no meio das costas que se assemelhava ao formato de uma longa mecha de cabelo, como se fosse uma trança desmanchada. A observação do historiador “casa” com a informação de que trançar os cabelos atrás do pescoço era uma moda comum entre os judeus da época de Jesus.

PÓLEN E FIBRAS
* Em agosto de 1999, o botânico Avinoam Danin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, confirmou que o lençol mortuário de Jesus abriga pólens de plantas que só existem em uma região do mundo, Jerusalém. Data do pólen é anterior ao século 8 d.C. Um detalhe interessante: os pólens encontrados só aparecem nos meses de março e abril, justamente no período em que Jesus foi crucificado, morto e enterrado com o Sudário. Um desses pólens, inclusive, pertence à espécie Gundelia tournefortii, que, segundo os especialistas, teria sido utilizada na confecção da coroa de espinhos.
* Orit Shamir, especialista em tecidos antigos da Universidade Hebraica de Jerusalém, revelou que o pano do Sudário, produzido em tear manual, foi confeccionado com técnicas de fiação e tecelagem amplamente utilizadas e difundidas no Oriente Médio na época de Jesus. Além do linho, o pano contém vestígios de fibras de um tipo de algodão do Oriente Médio, o Gossypium herbaceum. A hipótese levantada é que o tear teria sido anteriormente usado para confeccionar peças de algodão. Esse seria mais um argumento a favor da origem oriental do Sudário. John Tyrer, pesquisador do Instituto Têxtil de Manchester, Inglaterra, afirma que o algodão não era cultivado na Europa durante a Idade Média, contradizendo a ideia de que o tecido teria sido fabricado entre os séculos 13 e 14, como atestou o Carbono 14.

OS EVANGELHOS
Assim como os textos de Mateus, Lucas, João e Marcos, o Sudário revela informações sobre as torturas sofridas por um homem que realmente carregou uma cruz, no sentido literal da palavra, para depois sofrer uma morte por crucificação.

reprodução

O interessante é que esse evangelho visual é compreendido à luz da ciência. Os conhecimentos de Fisiologia e Anatomia (que sequer eram imaginados na Idade Média) funcionam como uma espécie de lupa que permite entender as informações presentes nas fibras de linho da mortalha.

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Assim como os textos de Mateus, Lucas, João e Marcos, o sudário revela informações sobre as torturas sofridas por um homem que realmente carregou uma cruz

* Diferente de como é mostrada nas pinturas clássicas, a coroa de espinhos não tinha a forma de tiara, mas de um capacete que cobria a cabeça toda. Urdida com espinhos com 5 centímetros de comprimento, ela foi responsável por 72 perfurações na cabeça de Cristo.

*A flagelação provocou de 90 a 120 ferimentos, sendo que a forma das feridas corresponde às produzidas pelo tipo de chicote usado na época pelos romanos, conhecido como flagrum.

* Como afirma a história, os condenados não carregavam a cruz inteira até o local de execução, mas apenas a haste horizontal que seria anexada à trave vertical, pré-fixada ao chão. Ainda assim, o transporte da barra horizontal provocou enormes hematomas nos ombros e nas costas do homem que, posteriormente, seria crucificado.

* As impressões deixadas no linho referem-se aos ferimentos nos joelhos e no rosto atestam as quedas ao longo do percurso relatadas nos Evangelhos. A rótula esquerda, por exemplo, assim como o nariz, sofreram graves contusões e rompimentos de cartilagens.

* As chagas feitas pelos pregos se mostram na altura dos pulsos. Se o traspassamento tivesse sido feito na palma das mãos, estas teriam se rasgado devido ao peso do corpo. Já a colocação dos pregos nos pulsos garantia uma fixação mais firme à cruz.

* Outro detalhe anatômico que nenhum falsificador do século 13 teria conhecimento é que, ao fixar os cravos no meio dos pulsos, automaticamente aconteceria o rompimento dos nervos medianos, provocando a retração dos polegares, deixando-os dobrados para dentro das mãos. As imagens tridimensionais do misterioso linho mostram isso.

Fonte da informação – http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/56/artigo273622-2.asp

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